24.11.08
23.10.08
laço de fita
O porteiro, no interfone: encomenda pra você. Pego uma sacola, dentro uma caixa de papelão pardo, envolto num laço de fita de cetim prata.
Esse foi meu presente de aniversário. Não o meu aniversário. O dele. Escolhi três fotos minhas. Em uma delas escrevi um texto, no photoshop. Uma declaração conformada, de quem sabe que tem, mas não é a hora. Me guarde, eu pedia.
As colei em placas finas de isopor, fomando três pequenos quadros, muito frágeis. Embalei em papel de seda dourado antes de colocar na caixa, quase do mesmo tamanho das fotos.
Na festa, me entreguei a ele. Dizia não importa, sou tua. Ele entendeu. Agora, depois de tempo e medo, ele vinha me lembrar da promessa.
Desfiz o laço e senti as texturas do cetim, as folhas de seda, o papel fotográfico Tento tocar no que fui, não alcanço o que me tornei. Fecho a caixa e guardo o mistério. Quem sabe, na hora certa, eu desfaça o nó e dela saiam borboletas, luz intensa, um sinal.
Postado por Erica Gonsales às 13:48
23.9.08
ponta da língua
O queixo escorregadio, brilhante. Numa lambida sinto gosto de castanha e jasmim. Já tentou definir o sabor e teve a idéia de um sommelier de bucetas. Agora me pego decifrando ingredientes e aromas, notas harmoniosas de uma fórmula dissonante.
Mistério o que ela tem de especial. Me disseram que é textura; macia, pantanosa. Houve teorias sobre a temperatura e o formato. Penso que é enigmática.
Noto uma luz reletida nos olhos dele, como quem abre um baú de tesouros. O ponho outra vez em trevas úmidas, algum planeta não visível a olho nu. Dedos e língua na via láctea inundada.
Postado por Erica Gonsales às 01:37
29.8.08
perigo
foto: Male
Um beijo nunca é só um beijo. Sexo, então, nem se fala. Sexo é compromisso. Não importa o grau, o gênero. Quanto mais sexo com alguém, mais esse grau vai aumentando. Mais e mais daquela pessoa vai fazendo parte de você, te modificando. Cada vez você enxerga mais dela, mais portas se abrem. Inevitável que você seja um pouco dela e ela de você. E ciúme. E medo. E confusão.
Você pode enfim ter se apaixonado. Ou está infectado, teu organismo viciado nas coisas que dela passam pra você, cada vez que o atrito abre seus poros e o sangue correndo rápido esquenta a alma e te desprende de você. Sexo nunca é só sexo. Te desarma, te dá poder, te entorpece, te apaixona.
Tenho sintomas de abstinência, minhas tripas se retorcem, meu sangue corre lento, a respiração é curta. Minha barriga gela e meu corpo desfalece, fraco. Mas o coração palpita, suplica pela sensação plena de receber, pelo olhar vidrado, a invasão, o cheiro, o tapa, a ebulição.
Passo os dias dormindo demais, tendo sonhos fragmentados, evocando lembranças que me fazem desejar o impossível e gozar chorando.
Postado por Erica Gonsales às 13:52
24.8.08
resgate
Me tira agora dessa pasmaceira. Vem me levar. Pode ser qualquer lugar, desde que não seja muito seco. Me desafoga, me alenta, me dá um espaço no teu travesseiro. Melhor, me deixa dormir no côncavo entre o ombro e o peito.
Só preciso me aconchegar, tuas mãos guardando minhas costas. Feche algumas portas, todas escancaradas, não quero que mais ninguém me veja agora. Vou ficar dengosa, ler gibi, fazer as unhas, ver filme besta. Vou ficar de camiseta e meias, comer um monte de batatinhas e ver merda na tv.
Vem rir da minha ignorância, me contar segredo, me ouvir reclamar. Você me enxerga, não vai me julgar.
Pega minha mão, me guarda, me zela. Toma posse de mim.
Postado por Erica Gonsales às 23:29
20.8.08
bossa nova
Tem uma moça aqui. Calada e certinha. Ela quer as coisas no lugar, a casa limpa, a mente sóbria. Ela quer vestir seus novos sapatos azuis metálicos e caminhar no sol, cabelos dançantes.
A moça sente que, por mais que tudo mude, ela não deixa de ser moça. Chora ouvindo uma música incomum do Tom Jobim, deitada no chão da sala, fones no ouvido. Ela já não gosta de fumar, à noite não aguenta a fumaça lhe arde os olhos.
A crueza não lhe interessa. Ela não quer saber de fulano, que conhece fulaninha, que é super. Que tem isso? Quer viver um grande amor, gastar tempo mirando a lua, cheia, que bonita. O brilho a desfiar linhas que emaranham pra outras paragens.
O som alto atordoa, por que as pessoas falam tão alto? A moça quer tudo mais baixo, mais devagar, mais claro. Pra que assim ela encontre sonhos que a façam querer como antes, amplificar o bom, sorrir como moça.
Postado por Erica Gonsales às 01:00
9.8.08
malbec
conversa entrecortada pela fada safada. os lábios dele continuam mexendo mas só ouço o que elA diz. foi porque estava tão perto, de repente um cheiro, ele vibrando e chegando em mim. "tá vendo? tá acontecendo, teu coração com essa pontada aguda que nem choque, vento que bate e rebate até mostrar teus dentes todos em riso travesso, como se todos pudessem ver teus pensamentos".
perco algumas palavras, o vinho tem sabor intenso, todas as uvas e chuvas que nelas chiaram, o sol que esquentou seus cachos, estalo dourado na casca, carvalhos. ímpeto de te pegar a nuca, rir mais, perto, exalar meu hálito malbec, inspirar todo o ar que te rodeia.
a fada se despede, sem lamento, paciente. eu espero.
Postado por Erica Gonsales às 18:13
10.7.08
danado
Me assusta a crueldade do amor. Como somos punidos quando ele esbarra nas fatais impossibilidades, nos desencontros, nas contrariedades. Você me machucou porque me frustrou, não fez aquilo que eu esperava, então vou te punir com minha frieza. Vou te mostrar como é ruim não ter minha especial atenção, meu sorriso ao ouvir tua voz, meu olhar admirado. Vou falar com você como falo com minha mãe num dia em que estou mal-humorado. Vou falar com você muito mais interessado em continuar lendo um livro do que ter essa conversa. Mas não serei mal-educado, claro que não. Quero apenas que você sinta o quanto pode ser ruim eu não te amar, você não ser especial pra mim, ser como outra qualquer. Não. Ser claramente preterida a qualquer outra, seu pior pesadelo. Quero que você não apenas sinta que é comum, quero ainda que você sofra com isso e queira desesperadamente que eu seja denovo o cara que te olha como se tudo o que você faz fosse bonito e delicioso, divertido e encantador. Que você implore que eu volte a lhe beijar os pés, súdito. E minha voz lhe soe iluminada ao te ouvir. E que tudo seja envolto nessa atmosfera inventada, ideal, impossível. Onde não existem impossibilidades, não existe amargo, agonia. O que, convenhamos, não é amor.
Mas enfim tua agonia vai me redimir. Se vir tuas lágrimas, imediatamente me sentirei satisfeito, e logo arrependido. Tomado de culpa, vou me redimir e estaremos os dois enfim feridos e curados. Não há mais injustiça. Por algumas horas, com sorte dias, enquanto a reverência de um ou de outro for confortável, enquanto nem eu nem você representarmos ameaça a nós mesmos. Enquanto você me dominar apenas deixando que eu te domine, libidinosamente, puxando seus cabelos e te fazendo pedir tudo, sem parar, até o fim, com dor e desespero. Enquanto eu tiver o poder que você calcula e me dá. Até que eu perceba, num dia em que você estiver meio enjoada da minha cara de bobo, dos meus telefonemas ordinários pra contar mazelas do meu dia, que você está mesmo enfastiada. E vou pensar além, nos outros que você vai ver fazendo cara de bobo, pra variar. Nos telefonemas que você vai fazer pra ouvir outras mazelas. Não. Pra ouvir bobagens que nem te interessam, pra variar. E você vai dar e pedir pra algum idiota que vai beijar teus pés sem nenhuma autoridade.
Escutando aquela música que te mandei, ficará comovida e orgulhosa. Tua sincera admiração vai apagar todos os caracteres cruéis que havia produzido em noite de raiva e insônia maldizendo você. Travo a arma novamente, guardo minha angústia no HD. E vou ser o súdito que você ama. Um desgraçado feliz.
Postado por Erica Gonsales às 19:43
11.6.08
just be nice
foto: Autumn Sonnichsen
Ele me dizendo como imaginava o jeito que cada mulher goza. E eu?, perguntei, como você imaginava que fosse? “nem conseguia imaginar”. Noto o delirio de me ver “gemendo bonito”, como se presenciasse um milagre. Fica sinceramente emocionado. Mais grato ainda que eu, diluída em névoa prata.
Explico cada tipo. Conto que agora foi um Estrondoso, o sangue borbulhando, um zunido agudo na cabeça, como se um foguete fosse sair das entranhas. Mas que há o Ensurdecedor, que de fato abala minha audição por alguns minutos. Aquele efeito que dá quando a gente muda de altitude muito rápido. Do inferno aos céus.
Tem vezes que dá vontade de chorar, soluçar, pedir que não, como fosse tortura. O Dolorido, rendido e longo. Assim como o Silencioso, um grito contido que dissipa devagar. Raro é o Energético. Acontece de ser tomada por uma disposição de dançar, cozinhar, falar sem parar.
Tem vez de misturar um pouco de um com outro, como aquela noite do bilhete ao lado da sua cama, “como fazem nos filmes”, fui pela madrugada. Um estrondoso, ao mesmo tempo dolorido e energético. Não pude dormir.
Múltiplos, cada vez um, muitos em um, mil e tantas noites, manhãs. Gozar não tem só a ver com o que se faz. Depende do quanto me sinto livre. Do quanto me entrego. Tem esse romantismo de carecer intimidade, que é proporcional à perversão. Quanto mais confio, mais gozo. É como se pensasse: pra me ver assim, desarmada e profunda, não basta ser gostoso, tem que ser firmeza. Tem que merecer. Não só por fazer direito, pelo seu belo pau, tua lingua astuta, tua pegada esperta ou tuas palavras sacanas. Mais que tudo, vou gozar por você ser um cara muito legal.
Postado por Erica Gonsales às 00:24
16.5.08
ciúmes
fotos:autumn sonnichsen
De tudo que ela tiver de diferente, de parecido, de melhor.
De tudo o que ela possa ter pior do que eu.
Das coisas que ela deve saber que eu não sei.
De tudo que você possa admirar nela, tudo que te faz dela alguns minutos;
Quando olha daquele jeito pra ela, e pensa sobre o que ela possa ter de pervertido.
De quando você imagina todas as caras e gemidos e olhadas quando ela gozar, todo cheiro, textura, umidade e temperatura possíveis da sua buceta.
De cada vez que fica de pau duro imaginando a densidade dos seus seios, pegando, beijando, lambendo, esfregando no rosto da sua fantasia, tua máscara de diabo.
Desse tempo todo que não sou a única. Desses minutos, essas horas, das cenas todas das tuas punhetas em que não estou.
Mais da sua cara de bobo olhando pra ela, daquela voz que você faz quando o sangue sai da cabeça.
Das conversas com ela, de todas as vezes que fodeu seus peitos, que afundou nas carnes da sua bunda, o olhar pornográfico.
Da realidade, do que é, do que pode ser.
Do inevitável.
Postado por Erica Gonsales às 20:35
12.5.08
machuca
foto: autumn sonnichsen
Um vergão dos cinco dedos na minha bunda. Eu falei, eu disse não me machuque, não gosto. Mas do jeito que fez gostei. Talvez por isso o orgasmo dolorido, olhos espremidos, soluço, manha, rendição. E você tão dono de tudo, a crueldade mais doce. Tua arrogância de certamente poder. Isso.
Tá doendo até agora, banda direita da bunda. Mas teu orgulho de me fazer assim, ferida e grata, lençol molhado, você com essa idéia de ter feito tudo tudinho tão certo. E agora cada vez que dói, quando sento mais para a banda direita, vejo denovo tua cara de mal quando tá bom, entre as mechas do meu cabelo com a cara no colchão. O vergão, a vertigem, o soluço. Isso que é dor de amor.
Postado por Erica Gonsales às 18:14
14.4.08
a dor de Capitu
Esperei igual uma mulherzinha. Mandei recado, liguei. Quando já não havia mais nada na tv que me distraísse, me pus a ler contos de amor e ciúme do Machado. Li sobre a dor da Cat Power na Roling Stone. Me entretive. Mesmo assim mordia os lábios, buscava dentro da calcinha em vão. Nada me tirava o medo do coração. Me resignei e chorei umas lágrimas doces de amargura. Pensei, você não, você não pode me entristecer. Porque você sabe que a dissimulação e a incerteza do olhar de Capitu escondem, além da verdade impossível, fragilidade tácita.
Me rendi à cama. Apenas passar a noite, sem outra saída que não fosse amanhecer. Nove horas noto o ruído molhado dos carros. Meu celular apita suave e agudo, uma só vez. Eu tenho uma nova mensagem. A promessa de não mais me angustiar. Um novo dia e uma noite sem delonga. Quem sabe?
Postado por Erica Gonsales às 10:11
5.4.08
15 anos
Suando nas mãos. Me sinto nua com a escolha, que já parece muito errada, do vestido de seda preto. Na verdade é uma camisola da Victoria’s Secret, lembrança da única viagem a Nova York, aos 15 anos.
Não queria ir, com pai e irmão, melhor era ficar na praia. Pleno janeiro e eu indo passar frio. Melhor era esperar por Presto. Com ele era diferente. Mais velho, lindo, misterioso. Surfista-aviador-motoqueiro. Meu perfeito fetiche adolescente.
Nos encontrávamos à noite, no bar à beira mar, eu molinha de cerveja e caipirinha de maracujá, ele no grau do quinto baseado. Eu nunca tinha fumado. Ele ia e voltava enquanto eu apenas esperava. Até que ele chegasse, "vamos dar um rolê?". Seu apartamento, algum quintal desabitado ou uma barraca da praia. Me dava quase lúcida enquanto ele mal abria os olhos, numa viagem solitária e breve. Dia seguinte, não variava o enredo: era chegar na areia e avistá-lo no mar, com a prancha, e esperá-lo sair. Então só aquele "oi", com um sorriso de falsa timidez. A barba sempre por fazer, o corpo lépido e úmido, penugem dourada. De dia, ver já estava bom.
Quando andava sumido, minha espera acabava quando passava um avião, “é o Presto”, diziam. Domingo voava na moto pra só voltar na sexta-feira. Por terra, céu ou mar, Presto podia aparecer. A vida era a noite e a doce espera.
***
Então é quinta, eu com 30, vestido errado. A hora chegou, noite, ir. Suando nas mãos
Postado por Erica Gonsales às 20:36
31.3.08
perversa
Eu era a gostosa, era popular. No ginásio, no colégio, na faculdade. Lembro da primeira vez que tive noção do meu sex appeal de maneira mais explícita. Acho que estava na quarta série.
No meu aniversário fiquei aterrorizada, como todo mundo ficava, com a iminência de uma “ovada”. Não sei de onde tiraram essa idéia de nos castigar por ficarmos mais velhos. É como se fosse uma punição pelo fato de se aproximar o tempo de nos tornarmos uns adultos babacas. Enfim. Sabia que seria difícil escapar, eles iam me pegar na saída.
Não deu outra. Ovo podre, farinha, gritaria, todo mundo rindo da minha cara, eu já pensando em como ia tirar aquele fedô dos meus longos cabelos. No desespero, voltei pra escola pra tirar o excesso na torneira. Inocente, nem notei que minha camiseta branca tinha molhado e deixado meus peitinhos juvenis, que apenas despontavam em dois pequenos bicos inflados, à mostra. Enquanto pegava o caminho de casa, a notícia se espalhava: “a Erica tá com a blusa transparente! Vamos ver os peitos dela!”. E talvez por isso eu tenha quase abandonado o sutiã desde sempre, uma espécie de provocação permanente e assumida. Virei o jogo, não era mais pega desprevinida. Agora eles teriam que conviver com isso e ainda disfarçar, porque eu era muito invocada. Gostava de arrumar treta com os meninos.
Na quinta série travei uma guerra com Sergio, um aluno repetente, uns dois anos mais velho, sério candidato a deliquente. Era folgado, o malaco. Eu, idem. Um dia discutimos na classe por motivo qualquer. Munida da minha enorme petulância e protegida pelo meu gênero (e a lenda de que homem não bate em mulher), tasquei um belo tapa na cara dele, cheia de razão. Só que, pra minha total indignação, o revide veio rápido e certeiro, sem dó. Não falei mais com ele. E também nunca mais o esqueci - por causa do tapa, mas também pelo apelido mais esdrúxulo que já ganhei de alguém. Primeiro ele só comentava entre os amigos, depois escancarou, pra me irritar, até em bilhetes que deixava embaixo da minha carteira: “presunto gostoso!”. Isso mesmo. Que posso dizer? No fim a gente se estapeou ao invés de se beijar.
***
No colégio um novo apelido surgiu de outra tensão sexual, dessa vez consumada, com Porto. Ele era modelo, dos bons, e junto com minha amiga Fernanda, formávamos o núcleo do grupo mais popular do colégio. Nós éramos tipo as cheerleaders rebeldes da escola. Logo no primeiro ano, ele me deu um apelido que pegou e me perseguiu até há pouco tempo, quando me descobriram na minha rápida permanência no Orkut: Tieta. Ele ainda completava, numa espécie de saudação quando eu chegava na aula: “Tieeeta, cabriiiita”. Tinha gente que nem sabia meu nome real, era só Tieta.
Tava gostando dessa coisa de ser gostosa. A maioria dos meus amigos era homem, só as meninas mais doidas e legais se aproximavam. Podia escolher qualquer carinha pra ficar, inclusive o mais gato. Esse, claro, era um tonto e descobri que tinha o pior beijo que experimentei até hoje.
Só que esse papel me gerou uma crise no fiml do colegial. Me baixou uma rebeldia juvenil feminista, e aí que resolvi prestar vestibular de jornalismo. Não fosse a nóia de que eu tinha que ser respeitada pela minha inteligência, e a idéia equivocada de que pra isso eu teria que ser jornalista, talvez continuasse cantando, seguindo os passos do meu pai. Talvez virasse artista.
***
Não me arrependi do jornalismo. Só que minha imagem de gostosa não cabia na tela do telejornal da Faculdade. Hipocrisia, sim, vai ver os telejornais. E apesar dos caras quererem me comer, o que era bom, tinha os muito imaturos pra tentar a sorte (eles não teriam chance mesmo). Foi então que fui nomeada numa eleição, (que o Sérgio poderia ter comandado lá na quinta série), pelos garotos da minha classe no último ano. Fizeram uma lista onde fui eleita a “Mais Perversa”. Eles justificaram escrevendo “ela vem pra aula com camiseta branca sem sutiã...”, “ela passa e me olha como se fosse me devorar...”.
Então as provocações no ginásio mais a segurança e as regalias de ser gostosa no colégio me formaram a mais perversa na faculdade. Tinha aprendido alguma coisa, afinal.
Postado por Erica Gonsales às 14:48
17.3.08
fly me
We can all be free
Maybe not with words
Maybe not with a look
But with your mind
E você aparece e um frenesi que parece até. Não é a melhor coisa quando acontece de tudo desconcertar e nada mais? E um medo bom de falar algo totalmente estúpido. Tudo que eu quero é estar sentada no seu sofá incrível, bem perto. Só te ouvir falar qualquer coisa e sorrir e olhar incansável essa pinta acima dos lábios, teus cílios compridos que piscam feitiço. Eu só alisando tuas costelas, o peito, braços. Só pegar, olhar, ouvir. E sentir teu cheiro. Te disse, me dá uma coisa. Uma coisa assim que faz tudo inverter, o sangue correr ao contrário, o ar entrar e não sair e ficar tudo ali concentrado, variando as idéias. Nada do que sei funciona. É uma bagunça, uma zoeira. Me rendo sem medo de ser estúpida. Tropeço, piso no seu pé, rio de mim. Com você só me importa voar, sem medo de cair. E o resto que se dane.
Postado por Erica Gonsales às 17:01
13.3.08
pegar ou largar
Cuidado comigo. Posso te judiar, te decepcionar. Posso uma hora te amar e logo esquecer. Não confie em mim, não se iluda quando eu te escrever algo emocionante. Não amoleça se eu falar com voz de menina abandonada. Não acredite que eu tenho, afinal, um coração. Não que eu não ame, me apaixone, chore, sinta saudade. Não que não me sinta só e seja convencida por ingênuo desejo de ser diferente. Fato que é da minha natureza ser assim, como sou. Não que eu seja má. Coragem. Tome fôlego, prenda a respiração.
Postado por Erica Gonsales às 18:07
25.2.08
a gift
Um coração gravado, meu novo nome estampado. A gift. Assim ela permeia teus desejos fantásticos. Te olha e te vê como nem você sabia que era. Na verdade sabia, mas não tinha coragem de ser. Num clic, e outro e mais tantas miradas de te virar do avesso, ela vem chegando. Entra na sua carne, te veste da fantasia que te faz ser quem você imaginava desde sempre. Ela fala, você desconcerta e adora. Fala tudo na frente de todos, afirma como se perguntasse. A resposta é obrigatoriamente o que ela espera. Aponta sua máquina da verdade e... pronto. Te presenteia com a coragem de ser livre. Você é dela para sempre.
Postado por Erica Gonsales às 16:56
14.2.08
la mirada fatal
No puedes haces lo que quiero que hagas
No puedes hablar todo que hablas
Cuando mira mis ojos
Con tu malicia matadora.
No puedes.
Yo quiero y puedo
Mismo sin tener todo,
y más, y cuanto puedes me dar:
Todo que haces y no hay quién haga,
Tus palavras, siempre tu voz
La calma y intensidad,
Y todo, y mucho.
Sabes. Tu sabes,
Mi boca, tu camiño.
Quieres?
Mira. Hago todo que lo quiera.
A mi me encanta.
Postado por Erica Gonsales às 14:34
17.1.08
happy hour
Every time you come around, something magnetic pulls me and I cant get out
Disoriented, I cant tell my up from down
All I know is that I wanna lay you down
Sei que vejo essa faísca prata nos seus olhos, que o teu cheiro forma um campo magnético ao teu redor, que teu sorriso e a pintinha que passeia ali por perto desconstroem o cenário rapidamente: o céu fica alaranjado, as pessoas e os carros e as casas desfocam. Acompanho teu olhar pousado na minha boca, passei batom. Minhas mãos não páram, giro a bolsa no ar de um lado pro outro. Tenho um sorriso inevitável e constante, te pego o braço, ondas invisíveis. Meu ímpeto é acariciar tua barba macia, pegar nas mãos teu rosto e ver de pertinho cada tanto de delícia.
Abraço-enlace, despedida. O sol vai indo, dourando tudo atrás. Cada parte de mim deslocada, meus pés não encontram chão. Meu caminho é colorido, linha reta e infinita. Teu perfume, grudado em meu ombro, vai junto.
Postado por Erica Gonsales às 12:37 4 comentários