23.10.08

laço de fita

O porteiro, no interfone: encomenda pra você. Pego uma sacola, dentro uma caixa de papelão pardo, envolto num laço de fita de cetim prata.
Esse foi meu presente de aniversário. Não o meu aniversário. O dele. Escolhi três fotos minhas. Em uma delas escrevi um texto, no photoshop. Uma declaração conformada, de quem sabe que tem, mas não é a hora. Me guarde, eu pedia.
As colei em placas finas de isopor, fomando três pequenos quadros, muito frágeis. Embalei em papel de seda dourado antes de colocar na caixa, quase do mesmo tamanho das fotos.
Na festa, me entreguei a ele. Dizia não importa, sou tua. Ele entendeu. Agora, depois de tempo e medo, ele vinha me lembrar da promessa.
Desfiz o laço e senti as texturas do cetim, as folhas de seda, o papel fotográfico Tento tocar no que fui, não alcanço o que me tornei. Fecho a caixa e guardo o mistério. Quem sabe, na hora certa, eu desfaça o nó e dela saiam borboletas, luz intensa, um sinal.