14.4.08

a dor de Capitu




Esperei igual uma mulherzinha. Mandei recado, liguei. Quando já não havia mais nada na tv que me distraísse, me pus a ler contos de amor e ciúme do Machado. Li sobre a dor da Cat Power na Roling Stone. Me entretive. Mesmo assim mordia os lábios, buscava dentro da calcinha em vão. Nada me tirava o medo do coração. Me resignei e chorei umas lágrimas doces de amargura. Pensei, você não, você não pode me entristecer. Porque você sabe que a dissimulação e a incerteza do olhar de Capitu escondem, além da verdade impossível, fragilidade tácita.
Me rendi à cama. Apenas passar a noite, sem outra saída que não fosse amanhecer. Nove horas noto o ruído molhado dos carros. Meu celular apita suave e agudo, uma só vez. Eu tenho uma nova mensagem. A promessa de não mais me angustiar. Um novo dia e uma noite sem delonga. Quem sabe?

5.4.08

15 anos



























Suando nas mãos. Me sinto nua com a escolha, que já parece muito errada, do vestido de seda preto. Na verdade é uma camisola da Victoria’s Secret, lembrança da única viagem a Nova York, aos 15 anos.
Não queria ir, com pai e irmão, melhor era ficar na praia. Pleno janeiro e eu indo passar frio. Melhor era esperar por Presto. Com ele era diferente. Mais velho, lindo, misterioso. Surfista-aviador-motoqueiro. Meu perfeito fetiche adolescente.
Nos encontrávamos à noite, no bar à beira mar, eu molinha de cerveja e caipirinha de maracujá, ele no grau do quinto baseado. Eu nunca tinha fumado. Ele ia e voltava enquanto eu apenas esperava. Até que ele chegasse, "vamos dar um rolê?". Seu apartamento, algum quintal desabitado ou uma barraca da praia. Me dava quase lúcida enquanto ele mal abria os olhos, numa viagem solitária e breve. Dia seguinte, não variava o enredo: era chegar na areia e avistá-lo no mar, com a prancha, e esperá-lo sair. Então só aquele "oi", com um sorriso de falsa timidez. A barba sempre por fazer, o corpo lépido e úmido, penugem dourada. De dia, ver já estava bom.
Quando andava sumido, minha espera acabava quando passava um avião, “é o Presto”, diziam. Domingo voava na moto pra só voltar na sexta-feira. Por terra, céu ou mar, Presto podia aparecer. A vida era a noite e a doce espera.

***
Então é quinta, eu com 30, vestido errado. A hora chegou, noite, ir. Suando nas mãos