20.2.05

arte

boca
É só ver na minha cara. lábios inchados, pedindo mais um. não solte suas mãos de mim. com duas mãos me segura inteira. vê nos meus olhos? minha voz ficou grave. não penso outra coisa a não ser como suas mãos podem estar em toda parte. ah, eu sei que você gosta daí, também é minha parte favorita. parece até que você quer moldar uma peça que já está pronta, talvez por ter a ilusão momentânea de ser o artista que a criou. e de fato me sinto teu objeto - moldado, esculpido e admirado. em tuas mãos sou arte.

18.2.05

coisa

pau2
Saquei aquela coisa de lá como uma arma. que beleza, deu água na boca. agachei pra ver de perto. um naco de luz, pela fresta da janela, revelava cores e formas. tão bonita. nada poderia me apetecer mais. não é possível traçar paralelos, era aquela coisa mesmo. só que esta era a mais bonita que já tinha visto, a melhor de todas as coisas. não porque era perfeita, era torta. talvez por isso. a torta coisa mais linda. e apetitosa. comi tudo, tudinho. o gosto era divino, um gosto de céu na boca.

17.2.05

fast

DSC00852.JPG
Arremessada por uma dessas catapultas, voando rápido, longe, sem saber onde vai dar. No começo a velocidade é tanta que dá náusea, os olhos quase não abrem. À medida que o tempo passa, a velocidade diminui. Então dá pra abrir os olhos e ver o trajeto. Nem sempre uma paisagem agradável. Às vezes galhos e folhas cortam a pele. Rápido, rápido. Onde vai dar?

2.2.05

brilho

sol
Era um garoto incrível. Ainda é. Menos garoto agora, o tempo passou. Seu sorriso, pensamento ligeiro, alma leve, inflada de humor bom. Beijo, sexo, suave. Outro dia encontrei uns bilhetes - nunca mais veria nada parecido, tive certeza. Um deles, nota de alerta. Porque foi tudo num orelhão, pra quem quisesse ver. Reler o papel envolto numa carteira de notas me despertou a mesma reação da primeira vez que o li. Um sorriso instantâneo iluminou tudo. Nesse instante era como se vivesse, outra vez, os dias mais brilhantes. Guardado no peito, o homem-luz.

Mira

olhar3
Só um olhar e tantas coisas pra pensar. Quer ser criativo? Experimente olhares como aquele. Minha imaginação fértil pra um romance. Tudo por causa. Nem um perfume eu senti, apesar do beijo na bochecha. Sustentei o quanto pude meus olhos fixos ali até que me vi estampada com um ponto vermelho na testa. Torci pra cair ali mesmo, abatida. Nada. Estava ainda no salto, o batom ainda muito vermelho na boca. No roteiro que sucedeu - aquele que pude imaginar, sem plano de filmagem, à espera de recursos – tudo podia acontecer, até o gesto mais banal, desde que existisse aquele olhar. Uma rajada daquela luz e tudo acontece em slow motion. Qualquer pedido – qualquer – será atendido.