15 anos
Suando nas mãos. Me sinto nua com a escolha, que já parece muito errada, do vestido de seda preto. Na verdade é uma camisola da Victoria’s Secret, lembrança da única viagem a Nova York, aos 15 anos.
Não queria ir, com pai e irmão, melhor era ficar na praia. Pleno janeiro e eu indo passar frio. Melhor era esperar por Presto. Com ele era diferente. Mais velho, lindo, misterioso. Surfista-aviador-motoqueiro. Meu perfeito fetiche adolescente.
Nos encontrávamos à noite, no bar à beira mar, eu molinha de cerveja e caipirinha de maracujá, ele no grau do quinto baseado. Eu nunca tinha fumado. Ele ia e voltava enquanto eu apenas esperava. Até que ele chegasse, "vamos dar um rolê?". Seu apartamento, algum quintal desabitado ou uma barraca da praia. Me dava quase lúcida enquanto ele mal abria os olhos, numa viagem solitária e breve. Dia seguinte, não variava o enredo: era chegar na areia e avistá-lo no mar, com a prancha, e esperá-lo sair. Então só aquele "oi", com um sorriso de falsa timidez. A barba sempre por fazer, o corpo lépido e úmido, penugem dourada. De dia, ver já estava bom.
Quando andava sumido, minha espera acabava quando passava um avião, “é o Presto”, diziam. Domingo voava na moto pra só voltar na sexta-feira. Por terra, céu ou mar, Presto podia aparecer. A vida era a noite e a doce espera.
***
Então é quinta, eu com 30, vestido errado. A hora chegou, noite, ir. Suando nas mãos