amor por você
A primeira vez que te vi foi assustador. Que boba que eu sou. Um tremendo negão com aquela coleira prateda, língua de fora, excitado. Só muito tempo depois pude te conhecer de verdade e saber que era muita energia e espontaneidade que não cabiam em você, mesmo você sendo tão grande. Mas tua beleza era assim: era tanta que atraía mas assustava. Lembra como todo mundo falava de você em Alagoas, Mangue Seco, Praia do Forte, Caraíva? Também , com aquele acessório que teu dono te arrumou, né? Você tinha sua própria mochilinha nas costas e levava sua própria água. As crianças surtavam, "olha, mãe, o cachorro tá de mochila", e você ficava na sua, como se não fosse com você aqule estardalhaço na praia toda.
Mas naquela primeira noite que a gente se encontrou, naquela casa de vila onde o xô-piti morava, eu não sabia muitas coisas sobre cachorros. Mas foi com você, Jack, que eu aprendi a entender esses bichos. Claro que você era o mais bacana. Aprendi a falar com você, mesmo não sendo a língua que o xô-piti sabe falar, eu passei a conversar. E claro que você não sabia português, mas tenho certeza que você entendia minha intenção.
A gente se ligava muitas vezes na dor da saudade que ele deixava, na devoção que a gente tinha por ele. E a gente sabia que ele voltava, mas que não podia exigir. Quando eu olhava nos teus olhos cor de mel, quando você fazia aquele olhar doce, a gente se entendia.
Fiquei feliz quando você passou também a me ouvir e responder meus comandos. Eu podia te deixar solto na praça, você corria longe procurando as podreiras do lixo que você adorava comer, então eu chama "Jack!", e você logo suspendia a orelhas e vinha correndo em minha direção, pra se sentar calamamente ao meu lado.
Nas noites que ficávamos na sala esperando o xô-piti, ao ouvir o barulho do motor do carro dele, você logo me olhava como quem diz, "é ele". Mais emocionada fiquei quando me hospedei com vocês aquele mês, e dormia sozinha em meu quarto improvisado no porão... Você dormia um tempo comigo e de manhã, me visitava.
Chorei muito ao ver nossa foto, lado a lado, numa sombra em alguma praia da Bahia. Eu sorria para a câmera e você, tão lépido e robusto ali na areia, posando também. Aliás, acho que você gostava de posar pra fotos... era meio exibicionista, assim como eu.
Lamento nunca ter sabido direito fazer o carinho na orelha que você tanto gostava. Eu tentava, você até curtia, mas sei que não chegava lá... Esse carinho só o xô-piti sabia.
É Jack, a gente se entendia. E que falta você faz, que tristeza te perder. Ver teu prato de ração velho, o canto do quarto que você dormia, tu coleira solitária atrás da porta. Você, que tantas vezes consolou meu choro deitando a cabeça no meu pé. Agora choro por você. E o que me assusta é saber que não vou mais te ver.
Devia ser proibido a gente gostar de bicho.
ResponderExcluirBicho é isso. Bicho e pronto. Anda de quatro patas, não é gente.
Mas a gente quer que eles sejam gente. Como a gente. Melhor que a gente.
Nunca tive bicho meu. Só de casa. E bicho dos outros.
Já teve bicho que não gostava de mim, bicho que me amava, bicho que me catava. E eu já chorei por bicho que se foi.
beijos
vixi, de ate arrepio agora... tava rolando pet cemitery aqui nas oreia quando comecei a ler este texto. afehhh
ResponderExcluirLembrei do Rex, boxer que morreu de velho enquanto eu tentava desengasgar ele, tadinho... buáaaaaaaaaa
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