23.9.05

lugar nenhum

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Com ele fico no meio do caminho. Me vejo ali, clandestina, um fantasma que existe sem que ninguém possa ver. Passeio pela casa, subo e desço escadas, observo suas coisas, a cama desarrumada. Passo seu perfume, um jeito de grudá-lo em mim. Penso em quando ele podia me ver, me tocar. Desarrumo a casa. Logo ponho tudo em ordem pra que a minha presença não o assuste. Ele chega, segue seu ritual: passear com o cachorro, ração, água. Vai no banheiro. Faz um sanduíche, liga a TV. Talvez um beck. Talvez baixar umas músicas. Eu continuo ali, invisível.
Mas ele sabe, sabe que estou ali. Às vezes fala comigo, pensa em mim. Mas nada como antes. Porque seria em vão. Apesar de ainda sentir não existo mais.
Sinto que tem horas que minha presença incomoda, quando fico triste, a energia pesa. Dá um jeito de me mandar embora. Eu vou. Logo volto.
Tem noites que ele sonha comigo, diz coisas fabulosas, como antes: a mais gostosa. Se agarra em mim na cama, um abraço de enlaçar as pernas e dar as mãos. Só que ele acorda e não se lembra, tudo segue igual. Leio suas linhas e me entristeço profundamente, fico com ciúmes. Dou um jeito de bagunçar as coisas, de deixá-lo puto. Ele fica. E maldiz meu nome: praga daquela, só pode ser. Eu choro. Sem lágrimas palpáveis mas choro muito e, mais uma vez, vou embora.

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