augusta
Tinha nome de flor. Os olhos profundos, verdes d´água.
_Já vai embora? toma alguma coisa, é de graça.
_Mesmo? Caipirinha, então.
Encarava adivinhando, logo sorria seus dentes imperfeitos. Sentadas, numa fileira. Algumas dançam. Outra mete a cara de um gringo entre os peitos negros, imensos.
_olha essa: a barriga maior que os peitos!
Ela repete a risada repentina, exagerada, pra logo calar com os olhos perdidos. guarda seu mundo num espanto que nem sabe que mostrou. E pergunta:
_Você tem namorado?
_não.
_Gosta de mulher?
_depende. e você, gosta?
_não.
Vem uma música melosa, cantada em italiano, dessas de novela. Duas mulheres se beijam sob o foco da luz. Tiram as roupas. Lambem-se nos peitos e na buceta. Uma, exuberante. Outra, bem masculina. Peitão e peitinho, bundão e bundinha. O show acaba. Começa um forró. Rose, no relógio:
_meu gringo tá esperando, são 2h30.
_então vai encontrar teu gringo.
_mas onde vocês vão? eu também vou.
Vai pro banheiro, ver se descola algum. Nada. Então vamos lá beber, ela diz. Caipirinha, então. Ela pede sangue de boi. Com gelo. Toca drum´n´bass. Ela ensaia uma dança de rebolar até o chão. Logo ri, desenfreada. Tomo mais uns goles, ninguém me vê. Estou invisível. Já Rose. Me chama pra dançar.
_vamos lá dançar no cano!
_ah, não, vai você.
_vaaaamos!
Me puxa. Resisto. Talvez com uma roupa mais apropriada. Ela de vestido curto, rodadinho. Sandália de salto. Dois sujeitos olham e riem. Eis que surge a proposta. Muito barato. Renegocia. E o gringo? Um espanhol por dois bolivianos.
Rose me olha com aquele céu dentro dos olhos, infinito inalcançável. Some na fumaça. A noite silencia.
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