14.8.07

achados e perdidos

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Achou um grampo dourado na cabeceira. Sim, ela usava grampos. Mas os cabelos eram castanhos, portanto, usava grampos marrons. Mas estava ali, um grampo dourado. Com certeza uma loura havia passado por ali. Havia soltado os cabelos e pousado sobre a cabeceira o grampo, despretensiosamente. É provável que já nem se lembre dessa cena, mas sim do que veio depois: Renato pegando seus cabelos, ela tombando a cabeça pra trás, um olhar fixo, longo, a boca oferecida. Depois de um beijo, ele senta na cama e pede que ela tire a calça – mas deixe a calcinha, ele diz. Gosta de calcinhas. Fica a olhar, soberano e demente. A vira de costas pra alisar a bunda, apertar as polpas, boca aberta. O safado com certeza meteu a cara ali, lambuzou-se. Ficou horas virando e revirando a moça loura, cada vez de um jeito, incansável. Ele era assim. As garotas apelidaram. Incansável. E não era aquele treco chato de cara-que-nunca-goza e dá uma aflição. Era como dia na praia. Você deita no sol, dá um mergulho, deita no sol denovo, deita na sombra, dá uma volta, toma uma cerveja, come um queijo coalho, deita no sol, dá mergulho... assim vai, sem cansar, até se fartar e voltar pra casa.

Um grampo dourado. Renato no banho. Ela descabelada na cama amarrotada. Seu grampo marrom. Onde foi parar? Se levanta. No espelho grande que tem na porta do armário vê que o cabelo ta uma droga. O grampo! Procura na cama, embaixo dos travesseiros, no chão. Nada. Na mesa de cabeceira, só o brilho dourado do gancho de metal da loura. Pensa em largar o seu por lá. Haveriam outros? Mais grampos e presilhas, elásticos? Que se dane. Mira a mesinha de cabeceira. Tem uma pequena gaveta. Deve ter camisinha, bilhetes, KY? Se debruça na cama e abre devagar. Fotos, camisinhas (sim), um livrinho de orações. Quando remexe um pouco, se depara com um monte de grampos espalhados no fundo da gaveta.

A mesma cena se repete na sua cabeça, cada vez com uma mulher diferente: Renato pegando seus cabelos, ela tombando a cabeça pra trás, um olhar fixo, longo, a boca oferecida. Tem marrom e tem dourado. Pega um, prende as madeixas embaraçadas num coque. Veste a calça, a regata preta fedendo a cigarro, o sapato de oncinha. Bate na porta avisando que está atrasada. Na rua, os olhos borrados do rímel, lamenta a falta dos óculos escuros. Em casa, tira a roupa pro banho e lembra: a calcinha. Deixou em algum lugar do quarto a calcinha azul royal. A favorita. Imediatamente fica tranqüila. Ele deve guardar, afinal de contas. Numa gaveta especial, com cores e modelos sortidos.

6 comentários:

  1. rsrsrsrsrsrsrs!
    ai caramba, eu já dei uma olhadinha num gaveta e achei uma coleção de calcinhas!!!!
    pior que nem dava pra falar que eu vi... rsrsrsrsrs!
    beijon

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  2. Les photos sont très belles, et surtout le modèle.
    Beautiful photo.
    underground-zeitgeist.blogspot.com

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  3. Pequenas lembranças de bons ou, às vezes, ótimos momentos...

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  4. adorei conehcer seus escritos, principalmente por me reconhecer neles.
    :)

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  5. Você merece achar muitos grampos nas gavetas...

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  6. eu, heim, anônimo(a)! vá pra lá!!! já até me benzi, sai fora.

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