24.10.05

aumente o som

beijo3

acordei ainda com a sensação do beijo. foi lento, quente, perfeito. começo a lembrar de outras partes, tua mão na minha cintura, teu olhar me tomando de encanto, eu debruçada sobre um balcão cheio de fotos espalhadas, te ouvindo enquanto borboletas voam no meu estômago.
confundi outros rostos com o teu. vi muitos beijos. garotas lindas num ritual sem pressa de admiração mútua e sensualidade explícita. o som estava baixo. mal conseguia ver o palco. me pus a observar as pessoas e tudo que via eram beijos.
talvez esse sonho, seu beijo, tenha sido fruto do meu voyerismo. talvez fosse tanta vontade de ser envolvida completamente pela música e ela não chegar em mim.
quero o som mais alto, estremecendo o peito, cintilando pelo corpo. quero mais é que a música aumente tanto que não possa ouvir mais nada, que não possa falar. só beijos.

12.10.05

Beijos Proibidos

azul

Tantas vezes essa tela azul. Ansiedade ao ver a ampulheta girar. Checar se tem mensagem. Despejar letras nessa caixa de texto como se todos os sentimentos fossem um líquido transparente enchendo uma jarra quebrada. Sonhos e choros e lamentos e explosões de amor. Desculpas, acusações e desmentidos e confissões e lapsos de doçura que podiam durar para sempre. Acendo a vela e penso: paz. O mundo desaba, flores murcham pela ação do tempo, minha água já verteu para encher o lago onde quase me afoguei. Mas, desafeto não tem. É amor. Labirinto onde me perco e me acho, me salvo e me dano. Todo mundo que conheço é um pouco louco. Uma dose dupla de insanidade. Com limão, por favor. Ah, não esquece do gelo. Loucura não existe. As pessoas existem. E são como são. Classificação: humano. Racional. Instintivo. Ser contraditório. Incompreensão. Queria saber mais de tudo. Coisas que não sei. O que eu mais quero é saber. É não saber de nada. Quero fazer muitas coisas. Fazer nada. Consciência. A gente tem isso. Ela sabe que você me ama. Para ela tudo faz sentido. Para ela está tudo bem, porque é isso o que realmente importa. Paz. O que é um absurdo? O dinheiro mover o mundo, a falta de emprego, a guerra, a traição, a violência? Tudo se justifica. Tudo tem por que. Os especialistas podem explicar, podem contar a história, como tudo começou e chegou até aqui. Eu também. Posso ir a um especialista rever toda a minha trajetória para entender como cheguei até aqui. Pólvora, fogo, puf! Simples. Eu queria ser mais simples, mas não teria tanta graça. Intensa. Isso já sei que sou. Último grau. Então vai, só mais um degrau para ver melhor. Mas, aí tem um abismo. A queda é longa. No trajeto vou pensando: que porra estou fazendo? O que vai acontecer quando chegar lá embaixo? Cansei de drama. Sempre fui fã de Almodóvar. Aquela intensidade toda. Todos sem máscara para o espectador. Mulholland Drive. Como, vendo de fora, fica normal perceber o quanto é complicado. O amor sempre ali, regendo tudo. Tudo lindo, tudo fodido. Não somos seres racionais. Somos amantes. E isso tem nada a ver com uma capacidade de raciocínio. E, sinceramente, não sei com o que tem a ver. Mesmo assim acendo a vela e penso: paz. Sinto o amor que se instalou em mim desde o dia que você deixou uma bala em forma de coração em cima do meu travesseiro. Desde quando gravou aquela fita. Desde quando achei meio chato o teu jeito metódico em Caraíva. Desde quando fiquei imaginando você acariciando outra mulher como se eu levasse uma facada. Penso: paz. Uma cena da Nouvelle Vague, não menos intensa, mas serena. Era isso o que eu queria.

este texto foi publicado originalmente no www.fakerfakir.biz, por Dina Flape

3.10.05

sede

sede

talvez você seja mesmo proibido. se pudesse, te daria os melhores beijos. se pudesse me ver assim, se pudesse me pegar, saber como eu sou. se encontrasse a hora certa, aquele momento em que tudo acontece. simples, só acontece.
você me olhar com aqueles olhos de mira certa, isso é o que fode. da última vez fiquei sem graça, ficou tudo em câmera lenta. deu frio na barriga, me vi te olhando de longe com cara de boba. não era um daqueles momentos, falei sem parar, um monte de besteira, fui embora. sem deixar de pensar no que pode acontecer quando finalmente tua mira acertar o alvo. me sinto anestesiada, com sede. te bebo todo, em pequenos goles de degustação. adivinho teu perfume, tua pele quente. ah, se você soubesse do que é capaz uma mulher com sede.

1.10.05

cega

alcançar

Há qualquer coisa que me prende. Não sou amarga - fico exausta de procurar. As respostas são muitas, nunca suficientes. Esse pavor que me dá é coisa antiga. Se existe alguma verdade, ela não é possível, daí procurar outras.
Tive minhas vezes de achar teu beijo oco, teu ritmo lento demais. Também tenho meus desejos secretos. Mesmo assim tento adivinhar os teus. Adivinho teu encanto por belezas óbvias e unânimes. Tua busca contínua. Teu retorno.
Tem qualquer coisa que me prende e talvez seja essa escuridão. Tem sempre a dúvida do que existe ali além do que se pode sentir. Como se sentir já não bastasse.